Semana Literária – Unidades Madalena e Girassol
A Semana Literária acontece desde 2012 no Colégio e, na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, tem como proposta o aprofundamento no estudo de um autor ou uma autora. A partir desse enfoque, o trabalho com a palavra passa a uma nova esfera, em que aspectos criativos e expressivos do texto são integrados a sua função informativa. Ricardo Azevedo, Manoel de Barros, Clarice Lispector e Ruth Rocha já proporcionaram mergulhos na literatura aos nossos alunos. No mês que antecede a Semana Literária, as turmas de G1 ao 5º ano são instigadas a pesquisar e aprofundar o conhecimento da obra e vida de um autor ou uma autora, gerando reflexões sobre o processo de escrita e a literatura em si.
Último evento
Uma vida desenhada para se narrar – Lúcia Hiratsuka
No Mês Literário das unidades Madalena e Girassol, homenagearemos Lúcia Hiratsuka!
No livro de imagens, livres, os desenhos tomam a dianteira e sugerem interpretações numa cadência peculiar. Somos mergulhados pelas páginas, sem volta, e as sequências ilustradas vão ganhando sentido, formando narrativas em conjunto com palavras. O que se inicia é, na verdade, um passeio de liberdade pela imaginação.
Já não somos os mesmos depois de mergulhar em narrativas que envolvem desenhos com palavras. Já não somos os mesmos depois de articular imagens com letras, de descobrir as infinitas potencialidades de interpretação – de texto e de mundo – que essa conjunção propõe. Ler um livro-imagens é deixar-se inundar pelos sentidos trazidos na narrativa: habitando imagens e palavras, sendo habitados por palavras e imagens, criamos, também, nossos novíssimos edifícios de ideias para morar.
De acordo com as precisas palavras da crítica literária de produções para crianças e jovens, Cecilia Bajour*:
Mesmo que os livros ilustrados ou até alguns livros de imagens não sejam os únicos que buscam e encontram estratégias para combinar o mostrar e o ocultar (seria injusto com alguns textos maravilhosos que chegam a esse porto por outros caminhos que não necessariamente tendo a imagem como parceira), vou me referir especialmente a eles, porque nos últimos anos promoveram uma verdadeira revolução na arte de mesclar linguagens e alguns são interessantíssimos para considerar o que chamo o “artesanato do silêncio”.
Esses livros se caracterizam por uma relação de interdependência entre imagens e palavras que se dá, não só no nível do que é dito ou mostrado, mas na esfera total do livro como objeto material e cultural. Os sentidos se constroem a partir da interação das linguagens presentes, a língua, a imagem e a edição, que considero uma linguagem própria que, por sua vez, ajuda a orquestrar as outras. Embora o visual ganhe um relevo impactante, a palavra (quando há) não é um mero ornamento mais ou menos belo. Pensá-la como algo óbvio ou acreditar que sua tendência à brevidade (tendência que não se aplica a todos os casos) lhe subtrai hierarquia na hora de ler é desconhecer uma condição necessária desses livros.
A leitura, individual ou acompanhada, de um livro de imagens, oferece à criança ferramentas essenciais para o seu desenvolvimento. Em termos de aprendizagem, especialmente quando consideramos o âmbito da Educação Infantil, tal experiência de leitura dá suporte para a construção da identidade pessoal, estimula a fantasia, o desejo de conhecer a si mesmo e o outro – a abertura, portanto, para a experimentação e para a observação ética, tão importantes na relação respeitosa consigo mesmo, com o outro, com a sociedade e com a natureza.
Sobre a autora
Lúcia Hiratsuka nasceu em 1960, no interior de São Paulo, em um sítio chamado Asahi – que, em japonês, significa “sol da manhã”. Desde muito pequena se percebeu envolvida pelo desejo de narrar. Segundo a autora, “Quando era bem pequena, minha avó rabiscou um peixinho no chão do nosso quintal de terra. Gostei tanto que desenhei também e nunca mais parei. De lá para cá foram muitos peixes. Além do quintal, também as paredes das tulhas e o terreiro onde meu pai espalhava café enchiam-se de garatujas. E era divertido usar, no lugar do lápis, o carvão retirado do fogão a lenha. Lembro que os meus rabiscos sempre tentavam contar histórias. Aprendi a ler com meu avô. Os livros lá de casa eram, em sua maioria, escritos em japonês e conheci também alguns ehons, livros com ilustração. E acho que foi a partir desses livros que nasceu o meu desejo de escrever e ilustrar. Na época, nem sabia que existia essa profissão, apenas sonhava um dia trabalhar com desenhos”.
Das vivências de infância, Lúcia retira muito do material de suas narrativas. São espaços que nos trazem as singelezas da visão de mundo da autora, costuradas em composição entre seus traços e suas palavras. Lúcia escreveu e desenhou diversos livros para crianças, pelos quais recebeu importantes prêmios, tais como o Prêmio Jabuti, na categoria de ilustração, e o prêmio de Melhor Reconto da Fundação Nacional do Livro Infantojuvenil (FNLIJ), em 2008. Seu livro Orie foi eleito o Melhor Livro para Crianças pela FNLIJ em 2015 e escolhido para o catálogo White Ravens, da Biblioteca de Munique, e para a Lista de Honra FNLIJ-IBBY, em 2011.
* Cf. Cecilia Bajour, “O artesanato do silêncio” (trad. de Dolores Prades). Disponível em: www.revistaemilia.com.br/o-artesanato-do-silencio. Ver também, da mesma autora, “A voz nasce do silêncio – a construção do não-dito” (trad. de Thais Albieri). Disponível em: www.revistaemilia.com.br/a-voz-nasce-do-silencio-2.